quinta-feira, 10 de março de 2016

Ninguém te perguntou: Americanização dos nacionais (com Camila Monteiro)


Oi gente! A participação especial de hoje é da Camila Monteiro, autora e dona do blog Vida Complicada. O tema de hoje ta mais do que perfeito, confiram!




Há quem não se importe muito, mas se eu escolho um livro brasileiro para ler, espero não encontrar nenhum Jhon ou Mary na trama. Me alegro quando consigo me encontrar naquela história e quando os personagens possuem características que são mais "comuns" para mim, porque somos conterrâneos.

Sim, me irrita ler uma obra nacional completamente americanizada pelo autor. E posso apontar diversos problemas que fazem uma história assumir esse perfil. Um leitor mais atento percebe, logo de cara, quando isso vai acontecer e acreditem: Isso é o suficiente para que uma estrela de classificação seja tirada.

Posso enumeras os exemplos para ficar mais claro. Quer ver só:


1 - Nomes: Porque, em nome de GOD, os personagens precisam ter nomes como: Steven, Catherine, Jason, Emma... Qual o problema com nossos nomes? Não é uma história nacional? Então porque não nomear os personagens com Pedro, Marcelo, Aline, Juliana etc... Salvo em uma história de fantasia, onde tudo se passa em mundos alternativos ou coisa do tipo, usar nomes "diferentes" é totalmente permitido, mas eu disse diferente e não americano.


2 - Locais: Qual o motivo da história - escrita por um brasileiro - se passar em Nova York? São Paulo não é grande o bastante? Não é completo o bastante? Ou o motivo é que não possui o glamour que podemos conferir nos filmes? Quer um exemplo positivo disso: André Vianco. O cara ambienta todas as suas histórias em Osasco ou Porto Alegre e é incrível se encontrar nos cenários. Stephen King escreve como se tudo acontecesse no Maine - estado que me mora - e o pessoal de lá vibra por isso. Por que não podemos fazer isso aqui? Já pensou criar uma história que se passa na cidade em que você mora, com referências reais e tal? Não seria incrível? Pensem nisso, por favor...


3 - Comidas: Não estou dizendo que é impossível, mas me diga se é normal uma família comer bacon com ovos mexidos e panquecas com milk shake logo cedo? É normal isso? Vamos combinar que brasileiro está mais para um pão com manteiga e um café com leite. Fala sério. Qual o problema em ser um pouco mais fiel à nossa realidade? É até divertido - pelo menos para mim - quando um personagem compra uma coxinha de frango no mercado ao invés de pedir um waffle! 


4 - Copos vermelhos em festas - NÃO!!! Nos mercados se vendem copos brancos ou transparentes. Não é impossível comprar os vermelhos (ou azuis) eu mesma já comprei, mas os vermelhos são como um símbolo americano de festas. Todo jovem que se preza - lá - já esperou os pais sair de casa para comprar aqueles barris de chope e distribuir copos vermelhos para os convidados em seus gramados. Nós nem temos gramados aqui quase! Vivemos presos dentro de muros e grades... Fala sério!


5 - Armários em escolas - Essa eu morro de rir. Eu sei que em muitas escolas particulares existem armários para que os alunos guardem seus materiais. Eles ficam em corredores também, mas alguém aqui já estudou em uma escola estadual? Se tivesse armários, certamente não teriam as portas (hahahahaha). Só digo que se o escritor quer mesmo impressionar e conquistar os leitores, seria legal se ele se aproximasse um pouco mais da realidade em que a massa vive. Eu mesma nunca vi esses armários nos corredores em toda a minha vida de estudante. Sei que existem porque me falaram, mas não faz parte da minha realidade, assim como não faz na da maioria dos alunos de classe media ou baixa que estudaram a vida toda em instituições publicas. Pense nisso, isso é só uma dica de uma leitora mais exigente.

Eu pensei em citar algumas obras que "escorregaram" em cada um desses itens listados acima, mas no fim desisti. Não preciso fazer isso, sei que, mesmo os que não concordarem comigo agora, irão se lembrar desse post mais para frente e reconhecer as tais obras. Sei também que nada disso é uma regra, tenho amigas com costumes bem diferentes dos meus, que comem waffle com mel no café da manhã. 

A cultura americana está aí para ser aproveitada e eu gosto muito dela. Vivo dentro dela o tempo todo, mas acho que o escritor precisa olhar ao redor de si próprio e criar personagens mais palpáveis para os seus leitores. Ou será que a ideia é ser só mais um no meio desse mar de livros? 

Aqui, me parece que ser o diferente é ser um pouco mais normal, não acham?

Apoio totalmente as palavras da Camila. As vezes é muito ruim ler uma história que se passa num local que eu nunca vi (e nunca verei) na vida. Mesmo que se passe num local do Brasil que eu não fui, é muito melhor ler uma coisa que pelo menos segue a nossa cultura, os nossos costumes. Não sei se é desvalorização com o próprio país, se a grama do país vizinho é mais verde, mas é incontestável que os autores nacionais adoram uma história em Nova York, Inglaterra, Paris. 
Esses dias li um livro nacional que se passava em São José dos Campos, aqui perto de casa, fiquei tão feliz por ler o nome de um bairro que eu "conheço". A identificação foi bem melhor.
Acho que assim, o autor tinha que pensar "eu realmente preciso MESMO escrever minha história em um outro país? Se eu deixa-la no Brasil isso vai fazer com que muita coisa mude?". Se a resposta pra esses pensamentos for não, é porque o autor realmente não precisa localizar a história longe daqui.
E outra coisa: os costumes. É impossível achar brasileiro com nome americano? Não. Mas é difícil. O normal aqui é Maria, João, José, Ana e etc. Acha o nome muito comum, feio? Coloca outro, mas coloca nome brasileiro, que eu vá conseguir pronunciar corretamente. Adolescente daqui é igual adolescente americano? Nãaaaaao. É tudo diferente! Se não sabe como o adolescente brasileiro se comporta, pesquise por favor. Eu como uma jovem não me vejo representada em muitas histórias por conta disso.
Vamos apoiar nosso país, nossos costumes! 

10 comentários:

  1. Oi Nath e Camila!!!!

    Cara, vcs se superaram! De vdd! Adorei o assunto de hoje! Tenho que concordar com vcs! As vezes, até gosto do enredo americanizado dos autores brasileiros, mas sempre fico com aquela pulga atrás da orelha... "e se fosse aqui, o livro tbm seria bom neh?"

    Tem um série que eu amo demais, As Crônicas dos Mortos, que se passa aqui, na minha cidade, São José dos Campos, interiorrrrrr de São Paulo. Pensa numa pessoa feliz demais quando está lendo o livro e pensa - "puta merda! Eu vou direto nesse shopping! - ou - "Caraleoooo! Minha mãe mora naquela rua!!!!" Sou eu, lendo essa série! É divertido e cheio de referências, isso me deixa com mais vontade de encontrar livros com ambientação no Brasil!
    Tbm adoro os livros do Vianco! O cara arrasa! Perfeito em tudo. Sem mais!

    Sobre os nomes, triste realidade.... o que há de errado com nossos nomes??? Claro que o autor não vai colocar um personagem com o nome de Roberson ou Cleosvildo, mas neh? Temos tantos nomes lindos!!!! Pra que colocar um nome que eu não vou conseguir dizer em voz alta? kkkkk enfim...

    Parabéns pelo post! Amei de vdd!

    Nath, qual o livro que vc leu que se passa aqui? Please me fala! kkkk

    Bjo bjo^^

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  2. Camila do céu, você falou exatamente o que estava pensando ao ler um livro ontem!
    A Nath super acertou ao te chamar para falar sobre o assunto!
    Acho que pelo menos 3 dos 5 últimos livros nacionais que li tinham esses tais desses armários, pelo amor de Deus, o que acontece com o banquinho do pátio? Qual o problema de o galã chegar enquanto você está sentada em um banquinho escutando música? Pq tem que chegar quando a pessoa está nos ármários?
    Entre outras coisas, né?
    Ai ai!

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  3. Quando o autor sabe como escrever e descrever esses locais, seja por sua própria experiência, acho interessante até abordar a americanização, mas o que acontece muito e bota muito nisso, é autor que se baseia nos filmes e quer criar uma história com essa pequeninha base! Claro, que vai ficar bem tosco e sinceramente, histórias passadas no Brasil dão um gosto a mais! Fiquei alucinada quando li Cidade dos Mortos do Rodrigo Oliveira, ver a trama se passando na minha cidade natal, onde vivi por anos, os personagens passando por locais em que pisei, trabalhei e respirei, nossa foi incrível, por isso mesmo amo essa série! Meu marido adora os livros do Vianco e sempre comenta disso também, no livro mais recente do autor, ele chega a citar uma Pet Shop, que temos certeza que é a que passamos perto quando vamos para o centro de Osasco, e isso é demais, então qual o motivo de alguns escritores não pegarem isso para fazer seus enredos? É tão legal, dá uma sensação diferente, especial.

    Enfim, adorei o tema!

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  4. Legal!!!! Fico feliz que o pessoal tá concordando. Eu li um livro estes dias do Ernani Lemos que se passava em Londres (se não me engano), mas ele mora lá há anos e vive aquela realidade. Daí acho bacana. Gostei da abordagem dele.
    Ah, eu poderia citar mais uns 10 tópicos e muuuitos livros, mas nem precisa né? Leitor experiente já tá esperto com isso!

    Nath, amei aparecer aqui. Valeu pelo espaço!

    >> Vida Complicada <<

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  5. haha menina tu arrasou nesse post viu!?
    A americanização dos livros é um problema que considero irritante. Mas isso só me lembra que nós não somos patriotas e aliás detestamos tanto a nossa pátria que tomamos outra pra nós. Voei um pouquinho além dos livros, mas esse é um problema constante no Brasil. E o pior é que não vejo solução pra isso porque apesar da literatura brasileira ser incrível, e o resto? Economia, política, cidadania?

    ❥Blog:Gordices Literárias

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  6. Oi meninas!
    Concordo com tudo o que disseram e também me causa um pouco de tristeza quando vejo em livros brasileiros uma história que não condiz com o nosso dia a dia do país. Mas acredito que o autor faça isso na tentativa de glamourizar o livro ou, até mesmo, de torna-lo mais possível de ler por pessoas de diversas nacionalidades, não sei bem.
    Adorei o post! Uma boa reflexão!
    Beijos!

    Karla Samira
    http://www.pacoteliterario.blogspot.com.br/

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  7. Oiie! Meninas tenho que concordar! Mto chato vc começar um nacional e de repente, um nome que VC não consegue nem ler, isso me irrita mto...rsrs...adorei o post meninas! Bjs!!

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  8. Oi meninas!

    Nossa sem or! Não tem coisa que me irrita mais do que essa maldita americanização. Eu também não vejo sentido nenhum! Se você for parar pra pensar, parece que o autor tá desprezando completamente não só o país, mas a literatura dele também. E convenhamos, aqui ovo com bacon a gente come é no almoço, com arroz e feijão! E eu também nunca vi esses armários nos corredores. Na minha faculdade mesmo,eles existem, mas ficam dentro da biblioteca. Concordo com tudo o que disseram.

    Beijocas!
    http://www.roendolivros.com

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  9. Oi Ca e Nath, já discutimos esse assunto no grupo e eu também acho um absurdo essa americanização, principalmente com relação aos nomes e costumes, ainda não peguei nenhum romance que extrapole na questão comida, mas sério ia ficar muito espantada com isso. Mas o que mais me incomoda é quando ambienta a história no exterior, vários livros nacionais que li a história começa aqui e de repente a personagem está viajando o mundo ou nem mesmo começa aqui né, já se passa lá fora. Essa questão das festas em casa quando os pais saem nem existe aqui, pelo menos nunca ouvi falar de uma a não ser qdo o adolescente é podre de rico e consegue bancar kkkkkk. Fiquei curiosa com os livros que vc não citou Cá! Faço das palavras da Nath no final as minhas, não custa fazer um esforço para ambientar a história aqui, e nomes brasileiro bons existem aos montes

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  10. Em fevereiro li um livro nacional totalmente americanizado e até comentei sobre isso na resenha. Sou da opinião que, se o livro é nacional, ele tem que ter personagens nacionais. Temos que valorizar nosso país, nossa cultura e nossa literatura. Não adianta escrever uma obra americanizada, como valorizá-la como sendo brasileira dessa maneira?!
    Eu já li um livro nacional, que gostei muito, onde o autor tinha um pseudônimo de nome americano! Os personagens todos tinham nomes americanos. E eu só fui saber que era nacional quando peguei o livro para ler e li na aba da contra-capa um pequeno resumo sobre o autor! Eu acredito que pessoas assim façam isso para serem reconhecidos lá fora, mas acho uma vergonha. Concordo com tudo o que você disse!
    Pior ainda é quando o autor faz isso e nem conhece o ambiente a que ele se refere, fica explícito no texto. E além disso cria personagens americanos com costumes brasileiros. Vai entender.
    Essa dos copos vermelhos eu nunca havia reparado, mas a dos armários é clássica.
    Camila, adorei sua coluna e concordo plenamente contigo.

    Beeijos, Erica Regina
    Blog Parado na Estante
    Fanpage Parado na Estante

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