segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Resenha: 3096 Dias - Natascha Kampusch

Título: 3096 Dias
Autor (a): Natascha Kampusch
Gênero: Autobiografia, não-ficção, memórias
Editora: Verus
Ano: 2011
Páginas: 225
Avaliação: 
Compre: Amazon
Sinopse: A impressionante história da garota que ficou em cativeiro durante oito anos, em um dos sequestros mais longos de que se tem notícia. Em 2006, o mundo parou para acompanhar o desfecho de um dos sequestros mais longos da história: a austríaca Natascha Kampusch havia desaparecido aos dez anos de idade, após sair de casa para ir à escola. Inúmeras buscas foram realizadas pela polícia, sem resultado. Devido a problemas de relacionamento com a menina, sua família chegou a ser acusada de ter tramado o sumiço da garota. O mistério se dissolveu de forma surpreendente. Após passar oito anos sob o poder de um desconhecido, vivendo em um porão de quatro metros por três de largura, Natascha conseguiu fugir. Em depoimentos à polícia, contou que seu captor, o também austríaco Wolfgang Priklopil, a maltratava e a obrigava a realizar tarefas domésticas. Seus únicos momentos de lazer eram assistindo televisão, ouvindo rádio e lendo. Do cativeiro, restaram apenas lembranças e um diário escrito ao longo dos anos, que serviu de base para o livro. Nele, Natascha conta como aprendeu a viver com seu captor e tenta encontrar uma justificativa para seu rapto e maus tratos. A jovem fala ainda sobre a retomada de uma vida normal, agora sob os holofotes do mundo inteiro.


   Não costumo ler biografias, mas ás vezes, dá um faniquito e me pego com algum livro do tipo em mãos. Com 3096 Dias, não foi diferente.

   Em 2006, ano em que Natascha finalmente fugiu de seu cativeiro e essa foi a notícia mais explosiva possível, eu tinha apenas 10 anos - mesma idade com que ela foi sequestrada -, mas ainda hoje, 12 anos depois, me lembro de ter visto alguma notícia sobre o assunto, tanto que, ao me deparar com o livro, automaticamente sabia de qual caso se tratava. Afinal, uma criança sequestrada sem deixar pistas, e que fica presa por 8 anos e depois reaparece, acaba merecendo pelo menos uma lembrança lá no fundo de nossa mente.

   Apesar de ser um livro curto, demorei um bocado para terminar a leitura. Não é um relato fácil de digerir, ainda mais sabendo que não é mais uma das tantas ficções que leio. A história real, contada pela própria vítima, de alguma maneira um tanto quanto asquerosa, prende o leitor de um jeito que é impossível deixar de ler e de se envolver. Ficamos ávidos esperando pela próxima página, pela próxima informação, querendo saber o que acontecerá com Natascha a seguir, seja uma coisa boa ou ruim. O ser humano é fatídico, e querendo ou não, tragédias e casos horrendos como esse, chamam a nossa atenção de uma maneira inacreditável.

   Mas, como ia dizendo, encontrei uma certa dificuldade em terminar a leitura, já que em alguns momentos senti que o relato de Natascha ficava massante. Me perdoem caso eu pareça muito analítica ou fria com um caso tão sério, mas se tratando da dinâmica da leitura, alguns momentos do livro se tornam um tanto quanto chatos e repetitivos. Apesar disso, algumas reflexões da jovem me chamaram muito a atenção e me fizeram pensar um pouco mais.

   Natascha reflete muito sobre o bem e o mau, o preto e o branco, e para ela, não existe uma coisa 100% definida. Para ela, ninguém pode ser completamente bom ou completamente mau, tanto que ela tem uma imagem totalmente diferente de seu sequestrador, referindo-se a ele como uma pessoa com momentos de violência e momentos de ternura. Esteja ela sob o efeito da Síndrome de Estocolmo ou não, creio que o ponto levantado por ela vale o debate. Porém, em alguns momentos a benevolência com o sequestrador vai além do limite, em minha humilde opinião. Por mais que ela tenha praticamente se desenvolvido somente em cativeiro, e seu psicológico estivesse afetado, ela continuar "passando a mão" na cabeça do criminoso mesmo depois de anos de liberdade passa a ser um pouco estranho.

   E esse é outro ponto que ela levanta e acho interessante: no começo, o carinho e compaixão com a vítima são extremos, mas a partir do momento em que a pessoa se recusa a ser a vítima frágil que todos querem ver, o sentimento popular muda. Natascha conta que muitas pessoas passaram da compaixão ao ódio declarado, justamente por ela ter se mantido forte e não concordar com a imagem que fizeram do sequestrador. Ou seja, uma vítima só é vítima se se comportar como vítima. Posso imaginar mil e uma situações em que isso se aplique nos dias de hoje, e tenho certeza que vocês também.

   Outra coisa que me chamou muito a atenção foi a aparente inteligencia e clareza com que a menina sobreviveu durante os 8 anos e apresentou em sua fuga. Tendo sido privada de tantos estímulos nesse tempo, é curioso que ela tenha se desenvolvido tão bem. Realmente, um caso para estudos. Natascha deixa algumas coisas de fora em sua biografia, como os abusos sexuais que o sequestrador cometia e alguns vídeos que o mesmo fez dela. Ela mesma afirma no livro que não se pronunciaria sobre isso, e que não era bem assim. Essa parte me entristece um pouco, afinal, uma menina foi abusada durante anos e parece não enxergar isso.

   Enfim, não é uma leitura fácil, mas é uma leitura muito interessante, principalmente para quem gosta de biografias. Se você pesquisar sobre o caso, verá que algumas dúvidas surgem ainda hoje, sobre a veracidade dos fatos, mas isso não cala a voz de Natascha, nem muda o fato mais cru: ela sofreu coisas inimagináveis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita, volte sempre! :)